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Blog de escrita nas horas extra dos dias

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# Normalizar o assédio moral no trabalho no século XXI?

Há dias atrás contavam-me que a geração millenial se caracteriza pela grande rotatividade no trabalho: não gostam da chefia , demitem-se. Não gostam do país, mudam de país, não gostam da profissão, mudam de profissão.

Admito que , para a minha geração ( Geração X) isso é estranho porque subimos a pulso , sofremos com os anos da troika e tivemos que nos sujeitar à precariedade para sobreviver nesses anos. Muitos da minha geração saíram do país e não voltaram.

A geração dos meus pais , anterior à dos babyboomers, teve de trabalhar cedo, na adolescência. Foram poucos, uma elite que frequentou o liceu e a Universidade em Portugal,  já os outros, como os meus pais, tiveram os chamados "empregos para a vida" em grandes empresas ou na função pública.

No entanto, os meus pais, apesar de serem de uma geração anterior aos "boomers" foram sempre como os Milleniais, o que não deixa de ser curioso. Porém, a sua mudança de local de trabalho era sempre ponderada : o tal pássaro na mão, antes de abrir a gaiola do outro pássaro :)

Sofreram assédio moral no trabalho numa época em que não existia subsídio de desemprego, tendo o meu pai sido injustamente despedido pelo patrão apenas porque os clientes gostavam mais dele do que do patrão. Isso valeu-lhe nos idos anos 80, uma triste depressão à beira dos 50 anos. Anos mais tarde deixou de trabalhar para os outros , passando a ser o seu próprio chefe.

Já a minha mãe sofreu tanto assédio moral como sexual por uma chefia e, até ao final da sua carreira profissional, sofreu , como chefia, assédio moral por parte dos seus superiores. 

Acredito que, embora a genética explique o aparecimento de doenças como o cancro ou cardíovasculares, o stresse e o assédio moral, contribuem em muito para o desgaste psicológico dos trabalhadores e para o agudizar dessas tão tristes doenças.

Constato que há - não pode haver- no posto de trabalho de um professor ( escola)- uma normalização do assédio moral por parte de chefias e diretores e pais. Não pode haver. Por isso é que há baixas por burnout, por depressão , por doenças graves. Por isso é que há tanta rotatividade de postos de trabalho ( escola), tantos professores que se reformam mais cedo ( basta abrir as listas da CGA e verificar casos de professores que se reformam com elevada penalização - chegaram ao basta!).

Portanto, um viva! aos Milleniais e à geração dos meus pais ( que preparou os contratos coletivos de trabalho) e não ao assédio moral no trabalho ( Lei nº 73/2017).

@mmalheiro

ao meu filho Manel

aos meus pais

publicado às 08:11

Uma decisão na palma da mão- uma análise swot de uma carreira sem silêncios-

Li ,hoje, na rede profissional Linkedin, um artigo especializado sobre o silêncio a que os trabalhadores se sujeitam: ao silêncio por medo das chefias, por medo das entidades patronais.

Por medo de ficarem sem o posto de trabalho, muitos professores sujeitam-se, desde sempre,  ao assédio moral de diretores não eleitos pelos seus pares como nos antigos conselhos diretivos mas apenas porque se candidatam aos lugares e porque pertencem a determinados partidos políticos.

Por várias vezes, enquanto  professora contratada quis literalmente "mandar tudo ao ar" porque via formas de gestão ineficientes, formas de pressão para determinadas avaliações, formas de pressão para atender aos desejos de pais helicóptero, quando queria , apenas, apenas, dar aulas como o meu professor de liceu, António Leitão, me ensinara ( guardei os cadernos das aulas de Português) até há bem pouco tempo , ou como a minha professora de jornalismo, Margarida Simões, que nos quis pôr a pensar para além das notícias, das reportagens e nos colocou nos "Putos nos Is" na Rádio Energia.

Vivemos numa sociedade de extremos mas o professor continua a ser visto como um elemento menor da engrenagem, embora milhares tenham caminhado pelas ruas em manifestações e feito greves em 2022 e 2023. Só, desta forma, graças aos milhares que não tiveram medo, eu incluída, de caminhar em liberdade e sem silêncios, é que foi possível caminhar para o reposicionamento e progressão de milhares de professores com imenso tempo de serviço e a vida estagnada.

Contudo, mesmo com esta guerra vencida, o problema do assédio moral e da falta da boa mentoria aos professores jovens licenciados e ainda não profissionalizados, mantém-se erradamente, pois, tal como é referido no artigo que colocarei no final do texto, guardar o que se sente, em silêncio obrigado, tal como no tempo do fascismo, não é uma resistência sã, muito pelo contrário, traz muitas doenças do foro mental .

Portanto, eu que não sou de silêncios , enfrentarei provavelmente um novo caminho e a minha voz não se calará.

The Cost of Staying Silent: Psychological Trauma of Employees Who Can’t Speak Up in Linkedin

Aos meus pais

A todos os professores 

@mmalheiro

publicado às 23:54

O problema do assédio moral nas escolas

A escola portuguesa enfrenta, neste momento,  vários problemas : falta de professores,  falta de funcionários, pais helicóptero,  programas desatualizados das várias disciplinas , alunos estrangeiros e, finalmente, diretores no cargo há anos a mais. 

As escolas que apresentam grande rotatividade de professores são importantes para se pensar sobre esse movimento "migratório": o ambiente entre colegas é bom, os alunos são maus, as chefias gritam e assediam moralmente, pressionando os novos colegas ou os colegas da "casa".

Numa época em que a Universidade de Harvard se debruça sobre a segurança emocional no trabalho deviam os Diretores, Coordenadores e demais Assessores, repensar a forma como tratam os professores, os seus pares.

Tal como em 2015, quando Passos Coelho mandou professores e demais licenciados para a emigração,  haverá cada vez mais quem migre de situação profissional  pelo seu bem estar emocional.

Não há consideração pelo professor . Essa elevada desconsideração começa pelos Diretores que já foram professores e agora têm deveres para com os pais helicóptero e pelos meninos que têm de transitar , falhando com 4 negativas, e prosseguindo o seu ciclo de facilitismo e acefalia intelectual.

NNão sei para onde caminha este vazio educativo mas sei que eu talvez esteja a encerrar um ciclo porque cheguei a um limite. Eu e muitos.

Aos meus pais,

MM

 

 

 

 

publicado às 20:19

# Da missão ( impossível ) docente

Leio por estes dias notícias e mais notícias sobre a falta de milhares de professores, sobre o facto de na Europa só não haver falta de professores em dois países. 

Toda a gente opina sobre as causas desta falta de professores : aposentações, problemas de arrendamento, etc.

Na verdade , quando em 2012, Passos Coelho disse aos portugueses para emigrarem, foi isso que aconteceu. Portanto, milhares emigraram e outros "migraram" para outros trabalhos. Por exemplo, não há professores de Inglês porque foram trabalhar para empresas. O mesmo se aplica aos de Matemática, Economia ou Português.

Ao mesmo tempo, mesmo com percentagens de efetivação em funções públicas por tempo indeterminado ( QZP ou QA), há dois problemas graves, gigantes, que continuam a não ser resolvidos: a profunda desconsideração social em relação à classe docente ( basta ler os comentários online das pessoas em relação aos municipios que anunciaram ter apartamentos para professores ) e a luta "fratricida" inter pares ( a avaliação externa do professor continua a ser muito ambígua/ as direções são variáveis a pais, comunidade escolar, governos e pouco ou nada solidárias com os professores).

Portanto, se um docente não se sente apoiado pelos seus pares, se é submetido ao escrutínio de execráveis pais helicóptero que ,mais tarde ou mais cedo, vão ser os professores dos seus próprios filhos ( este será o futuro) ou então terão uma estupidificante AI a dar-lhes aulas, se não sente empatia por parte dos alunos a quem quer verdadeiramente "ensinar a sair do quadrado", qual é o objetivo da sua missão "impossível"? É manter a sua sanidade mental e mudar de trabalho.

Numa formação em que participei , em que estavam centenas de professores online a nível nacional, a formadora, psicóloga de profissão, terminou, dizendo: "caros professores, cuidem-se, meditem, façam yoga, desliguem o whatsaap, considerem-se".

Ainda esta semana, também a propósito de questões laborais, diziam-me "ah, demitiu-se porque estava subaproveitada". Há muitos professores com Mestrado, Doutoramento, várias Pós-Graduações no sistema educativo, subaproveitados.

De modo que , muito pragmaticamente escrevo- trataram mal os professores, agora já não os têm.

Um bom ano letivo a todos os professores resistentes e que mantêm a sua missão.

@mmalheiro

 

publicado às 15:14

# A ternura dos 70 - sobre os professores

Foi ontem anunciado pelo MECI um plano de salvação da Educação.

Já estamos habituados a salvamentos fraquinhos, a meros "placebos" para um tratamento que terá de ser inovador , construtivo e , sobretudo, respeitador de uma profissão tão importante na sociedade.

Fiquei sinceramente preocupada com os meus colegas que se arrastam literalmente para dar aulas e , muitos, só lhes falta 1 ano de serviço e estão já no 10º escalão.

Duas familiares minhas trabalharam até aos 70 anos mas em 2001 , quando havia reduções no horário, quando se preocupavam se um professor devia ter turmas atribuídas e se podia ter outras funções, apesar de estar ainda na escola, quando se preocupavam com os "bancos" a atribuir nos SAP.

Tinham horários muito reduzidos e serviços moderados.

Uma foi professora de Matemática , outra foi Médica de Família.

O meu pai reformou-se para além dos 40 e muitos anos de serviço porque começou muito novo a trabalhar e em final de vida, a "ida ao escritório" era uma rotina para quem trabalhara sempre com números , deve e haver, relatórios de contas,etc.

Neste momento, milhares de professores estão cansadíssimos!! , desde os 40 aos 66. Têm de aturar alunos indisciplinados, pais que precisam de psicoterapia pois hiperprotegem os filhos e imiscuem-se no trabalho do professor, colegas e direções complicadas. Para além disto, têm como Diretores de Turma- esta , sim, uma função que deve ser remunerada como extraordinária ( nos Confinamentos o meu telefone esteve disponível para os EE até às 22h) problemas para resolver com pais, alunos especiais, alunos que queriam ser especiais e papéis, papéis, papéis.

Faltam psicólogos para alunos, pais e professores, professores do ensino especial  para intervenção

nas escolas. Falta o Dr. Pedro Strecht dar palestras para a comunidade educativa ser grata e simpática para professores, auxiliares, direções.

No ano da Saúde Mental vejo cada vez mais colegas em formações sobre a saúde mental, sobre a gestão de conflitos, sobre a gestão das emoções.

Na última formação, a psicóloga terminou a sessão dizendo a 160 professores ( a nível nacional) para cuidarem de si, fazendo meditação, yoga, pilates e ,sobretudo, para não atenderam telefones, emails, whatsapp com os pais.

Guardo em mim as palavras de Sebastião da Gama "Pelo sonho é que vamos" mas, neste momento, em que estou quase a alcançar a meia idade, escrevo com determinação- lamento mas não trabalharei nem até aos 66, nem até aos 70. Vive la France! ( reforma aos 62).

@mmalheiro

em memória dos meus professores de Liceu, da Faculdade

em memória dos meus pais

a Evelyn Myre Dores, professora de Matemática

a Eva Pinto de Sousa, médica

 

 

 

publicado às 11:20

# Ao Professor Santana Castilho

Secção de Fado da Universidade de Coimbra, 2015 ( todos os direitos reservados)

Muito obrigada, Professor, por tudo o que fez por nós, professores. Não há palavras nem palmas suficientes.

Gratos sempre. Descanse em paz. Não será esquecido.

ao Professor Santana Castilho

@mmalheiro

 

publicado às 23:21

# Da Liberdade de expressão

Nesta nova e nefasta cultura "woke", marcada pelo maniqueísmo do bem/mal , onde fica a pura, puríssima liberdade de expressão? Ficará numa gaveta porque a cultura woke dirá que não se pode dizer tudo, não se pode escrever tudo, tem de se apagar tudo, tudo o que foi escrito, tudo o que foi dito, filmado, erguido , edificado.

Para onde caminha esta sociedade tão normativa e chatinha e que poderá causar problemas aos que são manifestamente anti-woke?

Viva sempre a liberdade de expressão que assiste a todos e em todas as profissões, professores incluídos.!

Ao meu professor de Português, António Leitão da ESA

@mmalheiro

publicado às 15:55

# O circo de feras da carreira docente

No dia em que cerca de 8000 professores vincularam a um quadro de zona pedagógica, muitos milhares ficaram ainda "em casa" ou "na casa de partida".

A vida de professor é , de facto, um "circo de feras", com muita capacidade para " jogar" mudanças de vida, de região, de escola, de contexto social.

Neste momento, o jogo peca pela falta de jogadores: milhares abandonaram o tabuleiro de xadrez em 2011/2012 quando o então Primeiro-Ministro Passos Coelho apelou à emigração ou mudança de profissão. Foi bem sucedido. Milhares emigraram para outros países, milhares mudaram de vida, literalmente. O afastamento de filhos pequenos e demais família acarretava consequências verdadeiramente insolúveis.

Agora faltam peões no jogo de tabuleiro apesar de terem aumentado alunos de outras nacionalidades, em virtude de uma imigração sem controle ( li há dias que são ainda precisos milhares de imigrantes para colmatar as lacunas na área do turismo, construção civil, etc , mas são essencialmente necessários imigrantes qualificados).

Na "casa de partida" ficaram milhares que não aderiram à vinculação dinâmica, uma nova forma de vinculação que pelo óbvio adjetivo ( dinâmica) implica muita transumância docente por todo o país. com muita instabilidade de local de trabalho, muita instabilidade familiar.

Falava-se há tempos de casas para os professores. Só um município tratou verdadeiramente do assunto. 

Como se resolve o jogo? Um problema difícil nesta fase do campeonato, quando se tem mais de 40 anos, filhos, marido, pais . Abandona-se o jogo?

O problema é que o país poucas ou nenhumas alternativas profissionais oferece a um Licenciado com mais de 40 anos ou 50. Se for da área de Economia/ Contabilidade/ Matemática talvez siga para bingo. Se não for é mesmo "resto zero", "nicles" de oportunidades a priori e a posteriori. 

A vida de professor é mesmo um "circo de feras".

( aos meus amigos que hoje vincularam ao fim de muitos, muitos anos de trabalho, muitos kms em vários carros, milhares de portagens automóvel depois, casas arrendadas, filhos crescidos)

@mmalheiro

 

publicado às 00:43

# Para onde caminha a Educação em Portugal?

No dia em que saíram os resultados dos exames de final de ciclo de Matemática e de Português, realizados em algumas escolas na versão digital, foi publicado também o Projeto de Decreto-Lei das habilitações próprias para a docência.

Caso seja aprovado , a decadência do sistema de ensino português será evidente e os resultados de hoje -  quase 60 % dos alunos tiveram classificações inferiores a 3 a Matemática- acentuar-se-á.

Tal como eu , muitos professores que fizeram greves, participaram em manifestações e , ao mesmo tempo, cumpriram objetivos, foram diretores de turma a 100% , sentem-se, neste momento,  profundamente desmotivados e mesmo entrando num lugar de quadro , pensamos se -24 anos depois- valeu a pena tanto sacrifício, tantos kms por muitas escolas ( muitas mesmo), tanto "queimar de pestanas" pré-Bolonha ( 6 anos + 2 Pós-Graduações depois) para nos confrontarmos com uma realidade dentro de um "quadrado" limitado a domínios, a critérios mínimos, a tutelas com experimentalismos pedagógicos "Maia", a tutelas submissas a encarregados de educação com objetivos de sucesso pleno para os seus educandos a todo o custo ( mesmo que os filhos apresentem pouco trabalho, motivação e resultados medíocres), a tutelas submissas a mentorias em concelhias.

Não há pedreiros, motoristas, fiscais de obra, revisores na CP, etc., mas há muitos jovens a aceder à Universidade, alguns com parcos conhecimentos, muitos com grande dificuldade na escrita e no desenvolvimento do pensamento crítico- a que preço?

@mmalheiro

publicado às 19:59

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