# Este país não é para velhos II
Hoje um profissional de saúde disse-me com uma frieza desconcertante "morreu, já tinha 80 anos, tinha de morrer", depois de eu relatar o caso de um familiar de alguém que morreu de Covid19, após ter sido infetado pela auxiliar de saúde que ia a sua casa.
Pergunto aos profissionais de saúde - médicos e enfermeiros - se fosse o caso de um familiar seu se seriam tão frios assim, de uma frieza sueca.
Será tudo descartável, velhos a mais, velhos doentes, pessoas que contribuíram para o país?
Há semanas li algures que alguém fazia uma tese de mestrado sobre a comunicação amável entre médico e paciente, pois muitas vezes a palavra soa a "morgue hospitalar" : "olhe, tem um cancro e idade ou não sabe?". Por contraste há quem meça as palavras, talvez por ter outra cultura, de outro país : "olhe, se a senhora fosse saudável, o seu organismo obedeceria, tal não é o caso."
Conheço um caso em que uma família não se pôde despedir da sua ente querida, doente terminal e, por força das leis Covid19 nem sequer viu essa ente querida em descanso eterno.
Termino dizendo que este país foi feito por velhos de 70/80 anos que lutaram em tempos idos para que houvesse democracia, SNS, educação e saúde para todos, emprego, habitação, condições de vida, igualdade, liberdade, justiça.
Portanto, quando parte um velho, não é só uma biblioteca inteira é uma parte de um país que se chama Portugal.
Aos meus pais.
@mmalheiro