#Da diminuição da empatia pelos outros
Aqui há meses houve quem me dissesse, um familiar de um familiar, médico por sinal, quando lhe relatei o caso de um tio de uma amiga, ex piloto da força aérea, que tinha morrido de Covid19 : "morreu porque tinha de morrer". Nunca mais encarei este familiar da mesma forma. De algum modo, ficou tudo a nu: a sua frieza, displiciência para com os outros e a sua falta de empatia.
Há cerca de 12 anos , um oncologista, sentado no seu gabinete de um hospital da grande Lisboa, olhou para a minha familiar mais direta, disse-lhe a pior notícia que se pode dar a alguém e depois fechou o dossier e disse "enfim, vou de férias",com um grande sorriso.Um dos meus irmãos que a acompanhava ficou de boca aberta.
Destaca-se, com saudade, um médico único, o Dr. Gouveia, também ele doente oncológico, que dava consultas com as marcas da agulha da quimio nos braços, numa associação de médicos solidária : "marcadores, tem sempre de fazer marcadores, há um risco familiar", dizia-me sempre. Apesar da sua doença e da sua contenção havia uma natural ternura para com a sua doente, como se fossem pares do mesmo infortúnio.
Muitos médicos e profissionais de saúde teriam a aprender muito com o Dr. Gouveia ,que infelizmente partiu há uns 3 anos, mas deixou a sua marca em todos aqueles com quem privou e isso é de facto o mais importante nesta época de pandemia em que há um crescendo de individualismo e frieza face às dores dos outros.
O que desejo a quem lê este blog é que encontre "Drs.Gouveia", médicos com empatia e que não vejam as pessoas de idade como empecilhos para uma imunidade de grupo na pandemia do Covid19.
@mmalheiro
ao Dr.Gouveia, in memoriam