O "quiet quitting" da classe docente
Numa banal conversa de amigos falava-se da falta ou do "esquecimento" do pagamento de ordens extraordinárias em determinadas profissões, como é o caso dos médicos. Se nesta profissão há uma Ordem que os representa e que demonstra a força que une esta classe, o mesmo não acontece na classe docente. Existem vários sindicatos que negoceiam pontualmente com a tutela mas que claramente perderam muita força.
Neste momento, há muitos mas mesmo muitos horários completos anuais por preencher nas regiões de Lisboa e de Faro, onde alugar um quarto ou um apartamento é excessivamente caro para um salário muito muito baixo. Se há uns anos os professores percorriam todo o país ficando em quartos, pensões, casinhas, para "ganharem" tempo de serviço, tal como Vergílio Ferreira fez, neste momento, muitos professores com vidas estruturadas ( casados e com filhos) decidiram não abandonar os seus. Cerca de 12000 "migraram " ou " emigraram",tal como Passos disse, de forma tão simpática, em 2012. Foram obedientes e mudaram de rumo, como cantava Zeca.
Deste modo, há muitos alunos sem aulas e continuará a haver a médio e longo prazo.
Por outro lado, os professores que ainda não têm vínculo e mesmo alguns vinculados há anos, começam a revelar um fenómeno do mundo laboral - que terá começado na China!- de uma demissão silenciosa, trabalhando o antigo "das 9 às 6" e nada mais do que isso. Também os professores estão a abandonar o "give a mile" ( o dar o litro) e a aderir ao "quiet quitting": não responder a emails para além da hora, não responder nem enviar emails ao fim de semana, protelar a entrega de documentos burocraticamente entediantes como as atas, não responder a telefonemas de pais ou chefias para além da hora de saída de serviço. Faz sentido esta resposta silenciosa perante uma sociedade ou governos que não se curvam diante dos que têm uma das profissões mais importantes de sempre.
Colaboradores de um "serviço educativo",que os deixou de estimar devidamente, os professores deixaram de "give a mile" e já não "hang tight" como dantes...
@mmalheiro