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Blog de escrita nas horas extra dos dias

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# Ao desconcerto do mundo

Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.

                  Luís de Camões



Há séculos atrás assim se questionou Camões sobre o " bem tão mal ordenado", assim me questiono eu agora.
Anda o Mundo desconcertado com a pandemia, com as intempéries, com o flagelo económico, com a solidão dos mais velhos com outras doenças e outras sortes não covid.
Se esta pandemia é absolutamente democrática na infeção generalizada, é reveladora das assimetrias sociais não só dentro de um país, como entre os países ricos e os países pobres, entre os que têm acesso à boa vacina e à aquela assim-assim como escreve hoje Clara Ferreira Alves no Expresso.
No meio deste desconcerto há quem tente acertar o passo com as Leis e, por isso, hoje é um dia histórico para os professores portugueses : a promulgação de um decreto-lei aprovado na Assembleia da República sobre a contratação e vinculação dos professores.
Nota-se, contudo, na classe docente, talvez seja o mesmo noutras, o crescimento de um individualismo, primeiro causado pela própria carreira - professores contratados, qzp, qa, que têm um número à frente, uma graduação final mas têm todos uma história de trabalho. O caos trazido pela pandemia trouxe uma competição ainda maior entre os pares e casos gritantes de pessoas que exercem o seu pequeno poder sobre os outros- em muitos casos, contratados com muitos anos de serviço e de idade- num Sistema que não agradece trabalharmos doentes ou trabalharmos até 3 dias antes de termos o primeiro filho.

Tenho entre amigas dois casos que deixaram de dar aulas, uma passou a exercer trabalho como tradutora e outra passou a dedicar-se à culinária nas redes sociais, na televisão e no mundo editorial. Nenhuma das duas tem saudades de dar aulas.
Entre colegas mais novos ou mesmo com idade madura que regressaram à escola, após anos sem contrato e exercício de outras funções noutras áreas, observei este descontentamento, mas, infelizmente, num tempo de pandemia em que não há trabalho, regressarão novamente. Só um professor jovem, a quem eu disse " vai dar a volta ao Mundo e depois vens dar aulas", reafirmou a vontade de trabalhar no ensino porque gosta mesmo.

No entanto, penso que, para a Escola acolher estes jovens professores para uma "escola do futuro" esta hierarquização e este "assédio moral no trabalho" tem de desaparecer, tornando as escolas mais democráticas e dividindo coerentemente e sem compadrios os cargos e, sobretudo, dirimindo os pequenos poderes em prol de algo muito mais importante: ensinar menos conteúdos mas ensinar algo fundamental- os valores que regem uma sociedade e a capacidade de luta para se alcançar um objetivo sem passagens automáticas com zero conhecimento.
@marinamalheiro

publicado às 08:33

# Da apologia de um ensino de proximidade

iniciou-se na semana passada, oficialmente, por força das dramáticas circunstâncias em que vivemos ( a pandemia do Covid-19) , um ensino à distância (EAD).

se em alguns casos há computadores para cada filho, pais a partilharem esses computadores pois estão em teletrabalho, na maior parte dos casos não há nem computadores, nem internet, nem telemóvel.

há alunos cujas famílias têm de ir buscar o almoço à escola porque pertencem ao escalão A, ou seja, os pais recebem menos do que o ordenado mínimo nacional.

muitos desses alunos não têm computador, nem tablet, nem telemóvel.

quando dizem aos diretores de turma- "ah o meu pai não recebeu o email, o email não funciona", o professor percebe logo que, no meio de tudo aquilo há uma imensa vergonha, a vergonha da pobreza, do desemprego, da escassez de meios. vergonha que vai aumentar com a crise económica que se aproxima.

há 13 anos atrás o programa E-escolas trouxe ,talvez de forma megalómana, um computador para cada aluno, um magalhães ou um portátil antigo reciclado. nenhum estudante estava como hoje a dizer "tenho os trabalhos feitos mas não os posso enviar, não tenho Internet".

é realmente de aplaudir o esforço de professores, diretores de turma, diretores de escola, presidentes da câmara, na gestão deste ensino à distância.

hoje um aluno sem computador, sem telemóvel, teve direito a um tablet emprestado da escola.

a diretora de turma quase chorava ao telefone a contar isto. "vai fazer os trabalhos todos, dizia-me."

à beira da reforma esta professora leciona desde o 25 de abril de 1974, talvez por isso tenha este espírito de solidariedade e partilha com os seus alunos.

eu só pensava que há aqui algo de muito errado. planifique-se o ensino à distância, a pseudo-telescola mas pense-se nos alunos nos seus contextos sociais.

se houver uma segunda "onda" de covid-19 no outono como vão aprender estes miúdos , com os pais no desemprego, no lay-off, a buscarem refeições à escola, com rendas em atraso, enfim, numa incrível precariedade económica?

portanto, hoje mais do que tudo há um ensino de proximidade, à distância de um telefonema mesmo dentro de um confinamento necessário.

à professora Dolores e a todos os professores 

@mmalheiro

 

publicado às 01:48

# Da vida numa bolha- a Educação ( feat. Madness)

há dias assim: de manhã leio um artigo de um padre em picardia com um secretário de Estado, à hora de almoço cai no meu email um blog novo de um professor, de carreira feita, provavelmente num escalão aceitável para viver tranquilamente e que subitamente se cansou de tudo e meteu Licença sem Vencimento de Longa Duração. O que este professor escreve é demonstrativo da absoluta verdade, fora de uma bolha que querem parecer aos outros "perfeita", a da Educação. Se os relatórios da OCDE e do CNE revelam aquilo que já se sabe, que há uma classe docente envelhecida e cansada, sem renovação de quadros, com candidatos a docentes de carreira com vinte anos de serviço, no lado da "bolha educativa" há a visão fantástica de disciplinas de projeto de cidadania, de dispensa de três horas aos funcionários públicos no primeiro dia de aulas dos filhos, de passes familiares em autocarros com menos cadeiras ou comboios a abarrotar de gente, de uma escolaridade obrigatória menos exigente, sujeita a domínios de aprendizagens essenciais, em que o acesso à informação é totalmente "simplex" nada "complicadex" -com algum interesse  como há 25 anos atrás -quando se tinha de pesquisar mesmo  para aprender. Que geração será esta no futuro? uma geração em que lhes é transmitido que tudo é fácil,  que não é necessário grande empenho para transitar de ano, em que o respeito pelo outro- professor, pais, funcionários, qualquer um- é algo tão mínimo e relativo que se dissipa pelo tempo. lembro-me da minha professora de História do 12º ano nos ter dado ,no ínicio do primeiro período, três páginas de bibliografia para pesquisarmos e estudarmos. pensámos na altura que era uma megera insana. no primeiro ano da Faculdade e seguintes a história era igual. É questionável, então, se há tempo por parte do aluno para a aquisição plena dos conhecimentos e para uma perspetiva crítica sobre os mesmos ou se serão mais importantes os papagaios de papel que se lançam numa praia, em prol de um projeto de escola. 

Fica aqui ,para seguir , o Blog https://lsvld.blogspot.com/.

Música dos Madness- all rights reserved to Madness.

 

@mmalheiro

 

publicado às 12:27

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