# Da apologia de um ensino de proximidade
iniciou-se na semana passada, oficialmente, por força das dramáticas circunstâncias em que vivemos ( a pandemia do Covid-19) , um ensino à distância (EAD).
se em alguns casos há computadores para cada filho, pais a partilharem esses computadores pois estão em teletrabalho, na maior parte dos casos não há nem computadores, nem internet, nem telemóvel.
há alunos cujas famílias têm de ir buscar o almoço à escola porque pertencem ao escalão A, ou seja, os pais recebem menos do que o ordenado mínimo nacional.
muitos desses alunos não têm computador, nem tablet, nem telemóvel.
quando dizem aos diretores de turma- "ah o meu pai não recebeu o email, o email não funciona", o professor percebe logo que, no meio de tudo aquilo há uma imensa vergonha, a vergonha da pobreza, do desemprego, da escassez de meios. vergonha que vai aumentar com a crise económica que se aproxima.
há 13 anos atrás o programa E-escolas trouxe ,talvez de forma megalómana, um computador para cada aluno, um magalhães ou um portátil antigo reciclado. nenhum estudante estava como hoje a dizer "tenho os trabalhos feitos mas não os posso enviar, não tenho Internet".
é realmente de aplaudir o esforço de professores, diretores de turma, diretores de escola, presidentes da câmara, na gestão deste ensino à distância.
hoje um aluno sem computador, sem telemóvel, teve direito a um tablet emprestado da escola.
a diretora de turma quase chorava ao telefone a contar isto. "vai fazer os trabalhos todos, dizia-me."
à beira da reforma esta professora leciona desde o 25 de abril de 1974, talvez por isso tenha este espírito de solidariedade e partilha com os seus alunos.
eu só pensava que há aqui algo de muito errado. planifique-se o ensino à distância, a pseudo-telescola mas pense-se nos alunos nos seus contextos sociais.
se houver uma segunda "onda" de covid-19 no outono como vão aprender estes miúdos , com os pais no desemprego, no lay-off, a buscarem refeições à escola, com rendas em atraso, enfim, numa incrível precariedade económica?
portanto, hoje mais do que tudo há um ensino de proximidade, à distância de um telefonema mesmo dentro de um confinamento necessário.
à professora Dolores e a todos os professores
@mmalheiro