# Da opinião pública e do egoísmo
Hoje , de manhã, vendo e escutando o programa da SIC "Opinião Pública", ouvi com espanto uma telespetadora dizer que as escolas deviam ficar fechadas o ano inteiro, dado que os pais que estão em casa, estão a receber vencimento e , pasmo maior, vem aí o Verão e as pessoas querem passear.
Portanto, para que uns passeiem no Verão, jovens, crianças, professores, pais, devem ficar em regime de clausura 365 dias e porque, enfim, não contribuem muito para a Economia. É preciso acordar a Economia, dizia.
Dei-me conta que esta pessoa, esta mulher, deve viver numa "twilight zone" e espero sinceramente que não tenha filhos, pois quem diz isto não tem amor nem a crianças, nem a seres humanos.
Todas as tardes as crianças do meu bairro estão no jardim, fazendo o seu passeio higiénico. Felizmente brincam com giz colorido e há jogos da macaca em redor da fonte , andam acelerados de trotinete, jogam à bola , caem. O resto do tempo , que é muito, estão em casa, diante de écrans de computador, televisão e telemóvel.
Qualquer pediatra poderá tentar explicar a esta senhora que as crianças precisam de brincar umas com as outras, quer para interagirem socialmente, quer para crescerem - faz parte dos estádios de desenvolvimento.
Há muitos anos numa aula de História, no meu 12º ano, em que pesquisávamos, mesmo em bibliotecas, íamos a livrarias e líamos, mesmo, a nossa professora falou-nos de como as crianças no século XIX não eram gente, eram usadas para tudo pelos pais, para o trabalho , para a casa, e as privilegiadas é que tinham preceptores em casa.
Em 1910 houve uma preocupação pela Educação- construiram-se escolas por todo o país- um país com cerca de 75% de analfabetos. Em 1901 foram criadas 5 classes na escola primária.
Neste momento, em 2021 continua a haver iliteracia funcional- há quem não saiba ler a conta da luz, não saiba fazer operações no multibanco. No entanto, mais do que essa iliteracia , há uma crescente iliteracia, mais perigosa, a da ignorância e do egoísmo.
@mmalheiro
aos pais, aos jovens e às crianças