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horas extra

Blog de escrita nas horas extra dos dias

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Blog de escrita nas horas extra dos dias

# O homem e o quadrado

Há dias assistia ao segundo webinar profissional do dia e escutava já com algum cansaço .

Eram colegas da área da Matemática que explicavam a sua metodologia de projeto utilizada nas aulas presenciais e agora também online. Tinham conseguido que os alunos fizessem origamis , mesmo à distância, enquadrando-se num dos domínios da Matemática. 

Anteontem , o Primeiro-Ministro apresentou-nos pragmaticamente as linhas da pandemia, as linhas do desconfinamento e lá estavam os quadrados coloridos.

Existe uma disciplina na formação de adultos - chama-se Matemática para a Vida- e tem por objetivo demonstrar as competências dos aprendentes no seu dia a dia utilizando a Matemática como, por exemplo, fazer um simples orçamento doméstico.

Não sei calcular RT's , limito-me a ler papers da Lancet, da Wiley,a ouvir e ler quem sabe mais sobre epidemiologia,  para tentar compreender de que modo poderá ser ultrapassável esta pandemia.

A imagem do PM e dos quadrados impressionou-me- só , a enfrentar, ao mesmo tempo, com coragem e com "simples quadrados" a opinião pública. Não são precisos quadrados mas apenas palavras diretas, precisas, sobre o caminho a seguir , ainda difícil ,com guerras dentro da própria Europa por vacinas. Às vezes é preciso mais do que um país sair do quadrado, é preciso todo um Continente.

@mmalheiro

publicado às 23:36

# Da janela da oportunidade ( feat. Wim Mertens)

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                                  Experiências em Vão, 9 de maio de 2016, Academia de Ciências de Lisboa

                                  foto @MMalheiro

                                  

                                  No dia da Europa, em que se falou de empreendedorismo social em Portugal ,na Academia das Ciências em Lisboa, com um entusiasmo contagiante,  constato que, há, a par desta "janela de oportunidade" para muitos que ousam tentar outras vias profissionais, de maior inovação, de menor estagnação a todos os níveis, uma janela  fechada para outros.

Fechada porque se recusam abri-la, caso dos jovens referidos no eixo NEET que se recusam a trabalhar ou a estudar. Não fazem Nada mesmo, nem precisa da tradução em russo. Milhares em Portugal, milhares em toda a Europa.

Evitar o "Vale da Morte" na criação de uma empresa, ou seja,  conseguir que esta se desenvolva, é o grande desafio do empreendedor. Capacidade para arriscar e não desistir talvez seja o lema adequado.

Talvez o empreendedor não limpe os vidros do carro com toalhitas Dodot como assisti hoje, como se fosse uma cena de um filme de Almodóvar... Agarrar as janelas de oportunidade não é, de facto, para todos.

Contudo, uns estão dispostos a perceber como se alcançam e o que está para além delas, outros nunca as abrirão.

Uma janela aqui

@mmalheiro

ao meu bisavô Manuel Malheiro, um torna-viagem empreendedor

 

publicado às 21:00

# Dos muros ( feat. Cocteau Twins)

Escreveu Hanna Arendt em 1961 no seu livro Between Past and the Future, no capítulo sobre a Autoridade, nomeadamente na política : " (...) O domar da necessidade tem pois como objetivo o controle das necessidades vitais  que coarctam os homens e os mantêm sob o seu poder. Mas tal dominação só poderá ser obtida através do controle e da violência exercidas  sobre os demais, que na qualidade de escravos aliviam os homens livres da coerção da necessidade. [ Sobre a filosofia grega].- (1)

Ora, passados séculos persiste este domar da necessidade em territórios longíquos, obrigando milhares a caminharem pela Europa fora, fugindo.

Pelo meio constroem-se muros de arame farpado junto às fronteiras com a Croácia.

Não gosto de muros nem de pedra, nem de arame farpado, nem muros entre e nas pessoas.

Como alguém hoje dizia na rádio , os refugiados apresentam níveis prioritários dentro da desgraça das suas vidas.

Mas, essencialmente, são todos vítimas de um "domar" que há muito deveria ter terminado.

É isso que deve ser lembrado, de acordo o direito internacional e , mais importante, de acordo com os valores preconizados pelas Nações Unidas.

(1) Entre o Passado e o Futuro, Relógio D'Água, 2006, tradução de João Miguel Silva, p.131

https://www.youtube.com/watch?v=X1Q7AdLq-LE&hd=1 Cocteau Twins, 1996, ao vivo , versão remasterizada( all rights reserved to Cocteau Twins).

@mmalheiro

 

publicado às 20:09

# Shalom ( feat. Beach House)

desenha-se a traços largos um cenário de muitos que caminham pela Europa fora, em fuga dos seus países em guerra, para´países de acolhimento como Portugal.

na Hungria deixaram-lhes sapatos numa estação , atiraram-lhes comida pelo ar como animais e houve quem os pontapeasse. nesse país ergueram-se muros de arame farpado. [indiscritível ,lembrando os sinais da II Guerra Mundial] continuam a caminhar.

há mais de 500 anos milhares foram expulsos ou fugiram das malhas da Inquisição ( com sede em Évora, curiosamente), eram portugueses e judeus. caminharam pela Europa fora.

pelas Leis internacionais de agora seriam refugiados, acolhidos, por exemplo, na Holanda, em Amesterdão, onde ainda vivem descendentes desses portugueses e onde há uma sinagoga portuguesa.

foram salvos por bravos holandeses que os esconderam dos nazis , arriscando a própria vida e a dos seus. @mmalheiro

20112 105.JPG

  Sinagoga portuguesa em Amesterdam, Abril 2012, foto Marina Malheiro ( todos os direitos reservados)

https://www.youtube.com/watch?v=Cy5MiOqarYs Beach House, Depression Cherry , Agosto 2015, ( all rights reserved to the magnificent Beach House)

@mmalheiro

 

 

 

publicado às 19:01

# Do Jogo ( feat. London Grammar)

O lugar-comum da "vida é um jogo" aplica-se literalmente por estes dias e não é preciso ser-se o génio matemático que inventou a teoria dos jogos ou o físico que se interessa pelo efeito borboleta.

No entanto, mais do que a beleza das leis da Física e  de tudo o que a Ciência comporta, a vida dos outros é cada vez mais regida pelos outros acima, pelos que, como num jogo de futebol chutam para fora ou para canto, evitando grandes penalidades.

É isso que acontece neste momento em que se constroem muros de arame farpado pela Europa, em que crianças refugiadas morrem na praia ou em camiões na estrada a caminho de um destino livre.

Os de cima chutam para canto ou olham passivamente para o ar, para ver para onde vai cair a bola. Provavelmente para o lado da Economia.

Prefiro as grandes penalidades ou os remates a sério, sem mão alheia na vida: esse é o jogo que importa.

https://www.youtube.com/watch?v=AOGPCFAGobs&hd=1 Wicked game cover pelos excelentes London Grammar , 2013 ( all rights reserved to London Grammar)

@marinamalheiro

 

 

publicado às 19:13

# Ítaca ( aos bravos gregos)

Ítaca

 

 

Quando abalares, de ida para Ítaca,

Faz votos por que seja longa a viagem,

Cheia de aventuras, cheia de experiências.

E quanto aos Lestrigões, quanto aos Ciclopes,

O irado Poséidon, não os temas,

Disso não verás nunca no caminho,

Se o teu pensar guardares alto, e uma nobre

Emoção tocar tua mente e corpo.

E nem os Lestrigões, nem os Ciclopes,

Nem o fero Poséidon hás­‑de ver,

Se dentro d'alma não os transportares,

Se não tos puser a alma à tua frente.

 

Faz votos por que seja longa a viagem.

As manhãs de verão que sejam muitas

Em que o prazer te invada e a alegria

Ao entrares em portos nunca vistos;

Hás­‑de parar nas lojas dos fenícios

Para mercar os mais belos artigos:

Ébano, corais, âmbar, madrepérolas,

E sensuais perfumes de todas as sortes,

E quanto houver de aromas deleitosos;

Vai a muitas cidades do Egipto

Aprender e aprender com os doutores.

 

Ítaca guarda sempre em tua mente.

Hás­‑de lá chegar, é o teu destino.

Mas a viagem, não a apresses nunca.

Melhor será que muitos anos dure

E que já velho aportes à tua ilha

Rico do que ganhaste no caminho

Não esperando de Ítaca riquezas.

 

Ítaca te deu essa bela viagem.

Sem ela não te punhas a caminho.

Não tem, porém, mais nada que te dar.

 

E se a fores achar pobre, não te enganou.

Tão sábio te tornaste, tão experiente,

Que percebes enfim que significam Ítacas.

Konstantin Kavafis

ao povo grego que ontem mostrou claramente a força helénica diante da Europa 

@mm

 

 

publicado às 09:39

# Os bárbaros chegam hoje ( Kavafis)

“O que esperamos na ágora reunidos?
É que os bárbaros chegam hoje.

Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?
É que os bárbaros chegam hoje.

Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.

Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?
É que os bárbaros chegam hoje.


‘O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.

Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Porque hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?

É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.

Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?

É que os bárbaros chegam hoje,
e aborrecem arengas, eloqüências.

Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!).
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?

Porque é já noite, os bárbaros não vêm,
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.

Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! Eles eram uma solução”.

K. Kavafis, "Á espera dos bárbaros"

https://www.youtube.com/watch?v=uoPzrGBjzxQ&hd=1 André Rieu e Trio de S.Petersburgh

@marinamalheiro

publicado às 11:15

# Os dias do futuro erguem-se diante de nós (Kavafis)

em dias Gregos, em que todos aguardamos um bom desfecho, pacífico e a  sólido contento de todos, este poema de Kavafis faz todo o sentido....

Leia também aqui  opiniões interessantes e sem recreio sobre a Grécia.

 

VELAS


Os dias do futuro erguem-se diante de nós
como uma série de pequenas velas acesas - 
pequenas velas douradas, quentes e vivas.


Os dias passados ficam atrás,
uma triste fileira de velas apagadas;
as mais próximas ainda exalam fumaça,
velas frias, derretidas e recurvadas.


Não quero vê-las; entristece-me seu aspecto,
e entristece-me lembrar seu primeiro clarão.
Adiante contemplo minhas velas acesas.(...)


K. Kavafis

@mmalheiro

 

 

publicado às 20:26

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