# Dos dias futuristas
Ontem, Lisboa, 2020. 102 anos após a gripe espanhola.
Não ia a um hospital há mais de três meses, desde que começou a pandemia.
Cá fora , junto à porta das urgências, devidamente distanciados, vários acompanhantes de doentes, eu incluida, todos de máscaras, numa normalização estranha.
Entro na 2ªporta para perguntar pela minha familiar . Questiono a funcionária se posso ficar naquela sala . Diz-me bem alto- " é melhor não , aqui ficam os suspeitos de Covid-19". Ui, vou já sair , respondo.
Junto a esta porta ,quando se sai, há um sinal com uma seta enorme ( Covid Positivo). Essa entrada do Covid Positivo tem um ar decadente e funesto. Muito funesto.
Ambulâncias entram e saem. Numa os médicos estão todos equipados com os fatos brancos, viseira e máscara. Numa maca uma senhora de idade.
No meio disto tudo, vagabundos, pessoas meias ébrias, estrangeiros sem máscara - que dizem bem alto - isto é um atalho e riem-se, passa uma ambulância que diz " transporte de doentes não urgentes". Quando vejo os condutores dessa ambulância tenho consciência da gravidade de tudo isto. Estão equipados de amarelo , de óculos e viseira, não parecem humanos, parecem saídos de um qualquer filme de ficção científica. Fazem a curva à minha direita com enorme destreza, a mesma com que encaram , certamente estes dias futuristas.
Retiro a minha familiar da urgência, é doente de alto risco e está numa sala de espera, desesperando há horas por um atendimento aparentemente seguro.
Segurança é realmente a palavra-chave neste momento.
@mmalheiro