# A ternura dos 70 - sobre os professores
Foi ontem anunciado pelo MECI um plano de salvação da Educação.
Já estamos habituados a salvamentos fraquinhos, a meros "placebos" para um tratamento que terá de ser inovador , construtivo e , sobretudo, respeitador de uma profissão tão importante na sociedade.
Fiquei sinceramente preocupada com os meus colegas que se arrastam literalmente para dar aulas e , muitos, só lhes falta 1 ano de serviço e estão já no 10º escalão.
Duas familiares minhas trabalharam até aos 70 anos mas em 2001 , quando havia reduções no horário, quando se preocupavam se um professor devia ter turmas atribuídas e se podia ter outras funções, apesar de estar ainda na escola, quando se preocupavam com os "bancos" a atribuir nos SAP.
Tinham horários muito reduzidos e serviços moderados.
Uma foi professora de Matemática , outra foi Médica de Família.
O meu pai reformou-se para além dos 40 e muitos anos de serviço porque começou muito novo a trabalhar e em final de vida, a "ida ao escritório" era uma rotina para quem trabalhara sempre com números , deve e haver, relatórios de contas,etc.
Neste momento, milhares de professores estão cansadíssimos!! , desde os 40 aos 66. Têm de aturar alunos indisciplinados, pais que precisam de psicoterapia pois hiperprotegem os filhos e imiscuem-se no trabalho do professor, colegas e direções complicadas. Para além disto, têm como Diretores de Turma- esta , sim, uma função que deve ser remunerada como extraordinária ( nos Confinamentos o meu telefone esteve disponível para os EE até às 22h) problemas para resolver com pais, alunos especiais, alunos que queriam ser especiais e papéis, papéis, papéis.
Faltam psicólogos para alunos, pais e professores, professores do ensino especial para intervenção
nas escolas. Falta o Dr. Pedro Strecht dar palestras para a comunidade educativa ser grata e simpática para professores, auxiliares, direções.
No ano da Saúde Mental vejo cada vez mais colegas em formações sobre a saúde mental, sobre a gestão de conflitos, sobre a gestão das emoções.
Na última formação, a psicóloga terminou a sessão dizendo a 160 professores ( a nível nacional) para cuidarem de si, fazendo meditação, yoga, pilates e ,sobretudo, para não atenderam telefones, emails, whatsapp com os pais.
Guardo em mim as palavras de Sebastião da Gama "Pelo sonho é que vamos" mas, neste momento, em que estou quase a alcançar a meia idade, escrevo com determinação- lamento mas não trabalharei nem até aos 66, nem até aos 70. Vive la France! ( reforma aos 62).
@mmalheiro
em memória dos meus professores de Liceu, da Faculdade
em memória dos meus pais
a Evelyn Myre Dores, professora de Matemática
a Eva Pinto de Sousa, médica