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Blog de escrita nas horas extra dos dias

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Blog de escrita nas horas extra dos dias

# Da Liberdade de expressão

Nesta nova e nefasta cultura "woke", marcada pelo maniqueísmo do bem/mal , onde fica a pura, puríssima liberdade de expressão? Ficará numa gaveta porque a cultura woke dirá que não se pode dizer tudo, não se pode escrever tudo, tem de se apagar tudo, tudo o que foi escrito, tudo o que foi dito, filmado, erguido , edificado.

Para onde caminha esta sociedade tão normativa e chatinha e que poderá causar problemas aos que são manifestamente anti-woke?

Viva sempre a liberdade de expressão que assiste a todos e em todas as profissões, professores incluídos.!

Ao meu professor de Português, António Leitão da ESA

@mmalheiro

publicado às 15:55

# O circo de feras da carreira docente

No dia em que cerca de 8000 professores vincularam a um quadro de zona pedagógica, muitos milhares ficaram ainda "em casa" ou "na casa de partida".

A vida de professor é , de facto, um "circo de feras", com muita capacidade para " jogar" mudanças de vida, de região, de escola, de contexto social.

Neste momento, o jogo peca pela falta de jogadores: milhares abandonaram o tabuleiro de xadrez em 2011/2012 quando o então Primeiro-Ministro Passos Coelho apelou à emigração ou mudança de profissão. Foi bem sucedido. Milhares emigraram para outros países, milhares mudaram de vida, literalmente. O afastamento de filhos pequenos e demais família acarretava consequências verdadeiramente insolúveis.

Agora faltam peões no jogo de tabuleiro apesar de terem aumentado alunos de outras nacionalidades, em virtude de uma imigração sem controle ( li há dias que são ainda precisos milhares de imigrantes para colmatar as lacunas na área do turismo, construção civil, etc , mas são essencialmente necessários imigrantes qualificados).

Na "casa de partida" ficaram milhares que não aderiram à vinculação dinâmica, uma nova forma de vinculação que pelo óbvio adjetivo ( dinâmica) implica muita transumância docente por todo o país. com muita instabilidade de local de trabalho, muita instabilidade familiar.

Falava-se há tempos de casas para os professores. Só um município tratou verdadeiramente do assunto. 

Como se resolve o jogo? Um problema difícil nesta fase do campeonato, quando se tem mais de 40 anos, filhos, marido, pais . Abandona-se o jogo?

O problema é que o país poucas ou nenhumas alternativas profissionais oferece a um Licenciado com mais de 40 anos ou 50. Se for da área de Economia/ Contabilidade/ Matemática talvez siga para bingo. Se não for é mesmo "resto zero", "nicles" de oportunidades a priori e a posteriori. 

A vida de professor é mesmo um "circo de feras".

( aos meus amigos que hoje vincularam ao fim de muitos, muitos anos de trabalho, muitos kms em vários carros, milhares de portagens automóvel depois, casas arrendadas, filhos crescidos)

@mmalheiro

 

publicado às 00:43

# Para onde caminha a Educação em Portugal?

No dia em que saíram os resultados dos exames de final de ciclo de Matemática e de Português, realizados em algumas escolas na versão digital, foi publicado também o Projeto de Decreto-Lei das habilitações próprias para a docência.

Caso seja aprovado , a decadência do sistema de ensino português será evidente e os resultados de hoje -  quase 60 % dos alunos tiveram classificações inferiores a 3 a Matemática- acentuar-se-á.

Tal como eu , muitos professores que fizeram greves, participaram em manifestações e , ao mesmo tempo, cumpriram objetivos, foram diretores de turma a 100% , sentem-se, neste momento,  profundamente desmotivados e mesmo entrando num lugar de quadro , pensamos se -24 anos depois- valeu a pena tanto sacrifício, tantos kms por muitas escolas ( muitas mesmo), tanto "queimar de pestanas" pré-Bolonha ( 6 anos + 2 Pós-Graduações depois) para nos confrontarmos com uma realidade dentro de um "quadrado" limitado a domínios, a critérios mínimos, a tutelas com experimentalismos pedagógicos "Maia", a tutelas submissas a encarregados de educação com objetivos de sucesso pleno para os seus educandos a todo o custo ( mesmo que os filhos apresentem pouco trabalho, motivação e resultados medíocres), a tutelas submissas a mentorias em concelhias.

Não há pedreiros, motoristas, fiscais de obra, revisores na CP, etc., mas há muitos jovens a aceder à Universidade, alguns com parcos conhecimentos, muitos com grande dificuldade na escrita e no desenvolvimento do pensamento crítico- a que preço?

@mmalheiro

publicado às 19:59

# um país de donas Eugénia- do artigo 29º

Se pesquisarmos no Código do Trabalho encontramos um artigo que infelizmente muitos trabalhadores desconhecem - o artigo 29º : 

  1. É proibida a prática de assédio.
  2. Entende-se por assédio o comportamento indesejado, nomeadamente o baseado em factor de discriminação, praticado aquando do acesso ao emprego ou no próprio emprego, trabalho ou formação profissional, com o objetivo ou o efeito de perturbar ou constranger a pessoa, afectar a sua dignidade, ou de lhe criar um ambiente intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou desestabilizador.
  3. Constitui assédio sexual o comportamento indesejado de carácter sexual, sob forma verbal, não verbal ou física, com o objetivo ou o efeito referido no número anterior.
  4. A prática de assédio confere à vítima o direito de indemnização, aplicando-se o disposto no artigo anterior.
  5. A prática de assédio constitui contraordenação muito grave, sem prejuízo da eventual responsabilidade penal prevista nos termos da lei.
  6. O denunciante e as testemunhas por si indicadas não podem ser sancionados disciplinarmente, a menos que atuem com dolo, com base em declarações ou factos constantes dos autos de processo, judicial ou contraordenacional, desencadeado por assédio até decisão final, transitada em julgado, sem prejuízo do exercício do direito ao contraditório. "

in Código do Trabalho, Secção II,  Subsecção Igualdade e Não Discriminação, Divisão II- Proibição de Assédio ( última atualização maio de 2023)

Ontem foi publicado num semanário português um artigo de um jornalista em que este contesta o tempo de serviço  congelado que os professores reclamam. Esse artigo mistura assuntos e é altamente demagógico.  Perguntavam-me no outro dia: porque fazem os professores, agora, num governo socialista, tantas greves e tantas manifestações?

Basicamente a classe docente chegou a um limite.

A situação não passa apenas por contagem de tempo de serviço, passa pelo facto de existirem professores com 40 e muitos anos que ainda andam com a casa às costas , deixando a família para trás, deixando uma vida normal para trás, a fim de efetivarem muitos a 300km de casa, não tendo subsídios de alojamento, deslocação, como muitos altos funcionários públicos do Estado.

Espera-se que entre 2000 a 4000 professores não se tenham candidatado a um concurso com a designação de vinculação dinâmica . O dinamismo implica que, uma vez o professor esteja efetivo num QZP no ano letivo que aí vem, no próximo poderá estar noutro e noutro e noutro.

Portanto, andando sempre a mudar de escola, a mudar de vida.

Para além desta instabilidade e precariedade laboral, os docentes confrontam-se ( tal como muitos trabalhadores) com aquilo que se designa de assédio moral no trabalho.

Todas as semanas sei de situações de colegas que foram maltratados por direções de escola que dizem aos professores que têm de sumariar em 24horas, em 2 minutos, no sistema informático, caso não o consigam porque não há Internet têm de escrever em papéis e justificar, ameaçando com perda no vencimento, que dizem a professores para retirarem faltas de tpc de alunos caso contrário terão processos disciplinares, que enviam emails a desoras ameaçando professores, que marcam reuniões de trabalho online fora do horário de trabalho, que chamam professores que fizeram greve ameaçando-os de que se o fizerem novamente terão consequências, que fazem queixa de diretores por assédio moral e as testemunhas recuam, com medo.

A isto se chama assédio moral no trabalho. Com medo , muitos professores metem baixa e tentam mudar de escola.

Para além do assédio moral pela hierarquia de uma escola, noutras escolas parece haver também donas Eugénia que marcam faltas aos professores por greve, não apurando se o professor adoeceu, se alguém lhe morreu, se teve um acidente, dizendo "vocês fazem greve, vocês auferem mais, portanto, eu não sei e marco falta." Depois, os professores abrem a sua área pessoal e têm uma semana com os dias todos marcados a vermelho vivo, provocatório, mesmo que só tenham feito 1 dia de greve.

Um bom jornalista apura os factos, um bom colega e diretor protege os colegas e não os assedia moralmente.

Uma boa dona Eugénia cumpre o seu trabalho e não assedia moralmente- pode ir sempre para a Faculdade tirar um curso superior+ mestrado+ doutoramento e demonstrar capacidade psíquica para aguentar o jogo. 

Em Inglaterra muitos professores estão a abandonar a profissão e em Portugal, se estas condições laborais se mantiverem e se os professores não tiverem apoio nem do Governo, nem da Oposição, nem de um Presidente da República, professor catedrático "reformado", acontecerá o mesmo.

#Não ao assédio moral nas escolas, não às donas Eugénia# 

@mmalheiro

em memória dos meus pais que lutaram pela Liberdade no trabalho em 1976

aos meus amigos e colegas professores

 

publicado às 08:06

# 25, sempre! Não, senhor Ministro, não paramos.

Os professores aguardam a promulgação, congelamento ou não promulgação de um diploma dos concursos por parte do Senhor Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que expressou dúvidas sobre o diploma "aprovado", a 17 de março, sem a concordância sindical.

Por isso, a greve e a luta continuam e descemos hoje a Avenida , sem medo e com a Liberdade toda nas mãos.

A greve e a luta continua, Senhor Ministro, com e sem exames. Merecemos respeito e não desprezo.

[1 - A greve constitui, nos termos da Constituição, um direito dos trabalhadores.
       2 - Compete aos trabalhadores definir o âmbito de interesses a defender através da greve.
       3 - O direito à greve é irrenunciável.] Artigo 530 da CRP

@mmalheiro

publicado às 10:37

# A luta permanente da classe docente

foto ( in Pinterest)

Hoje ,em plena sala de operações, uma médica dizia-me a brincar : " hoje não está em greve!"

Respondi-lhe a sorrir que, de facto, hoje não estou mas estive na manifestação de sábado.

A precariedade da profissão, o congelamento de mais de 6 anos de 2011 a 2017, as quotas nos escalões, a progressão e reposicionamento na carreira, as reformas, os currículos, as turmas enormes, a indisciplina, a transição dos alunos com várias classificações negativas, as competências essenciais que são tão abaixo dos mínimos (.!) constituem os maiores problemas que os docentes têm de enfrentar.

A gasolina, portagens, renda, quando  os professores estão deslocados da sua área de residência são problemas concretos e, sim, relacionados com a Economia. Mais do que isso, relacionados com o sistema do concurso de professores, mais do que isso como me dizia um enfermeiro hoje, relacionados com a sua família.

Tenho uma amiga professora do grupo de Ciências que este ano decidiu ficar na área de residência ( fronteira entre o Minho e Trás os Montes) para ficar com os filhos.

Resultado: desempregada desde 1 de setembro. Estaria colocada desde esse dia na região de Lisboa. Está prestes a desistir de dar aulas.

É por estes casos que eu e muitos fazemos greves e participamos em manifestações.

O sistema está errado.! E se fosse consigo.?

@mmalheiro

#professoresamanifestartambémestãoaensinar#

 

 

 

publicado às 18:27

# 4 dias por semana no país da calmaria

Vai ser implementado um projeto- piloto da semana de 4 dias em Portugal, tal como já existe em vários países europeus ( nórdicos) e na China.

O coordenador deste projeto piloto dizia que acha que a taxa de natalidade vai aumentar...

Num programa de rádio sobre este tema dizia-se que a China já tem este sistema e aumentou imenso o turismo na China.

Este tema veio à discussão após os movimentos do "quiet quitting" ( adotado por vários trabalhadores insatisfeitos com a sua precariedade laboral) a que se seguiu o "quiet firing" ( o despedimento silencioso).

Hoje, entre colegas de trabalho, questionámos como seria feita a divisão das 35 horas de trabalho por esses 4 dias ou se isso comportaria um corte no vencimento.

No momento em que toda a gente aguarda uma transferência interbancária do Estado ,a partir de dia 20, uma "pequena cenoura!" para um parco aumento salarial, em que a inflação dispara e em que há uma guerra a decorrer, é questionável de que modo será aplicada esta semana de 4 dias aos trabalhadores portugueses.

Por outro lado, ouço cada vez mais histórias de "quiet firing" , totalmente justificadas para uma queixa no Tribunal do Trabalho.

Estaremos a navegar num mar de calmaria, quando em janeiro poderemos pagar e bem! os custos do frio, com possíveis cortes de eletricidade e de gás natural?

@mmalheiro

no dia em que em França houve uma greve geral contra o aumento do custo de vida

publicado às 23:58

#Da diminuição da empatia pelos outros

Aqui há meses houve quem me dissesse, um familiar de um familiar, médico por sinal, quando lhe relatei o caso de um tio de uma amiga, ex piloto da força aérea, que tinha morrido de Covid19 : "morreu porque tinha de morrer". Nunca mais encarei este familiar da mesma forma. De algum modo, ficou tudo a nu: a sua frieza, displiciência para com os outros e a sua falta de empatia.

Há cerca de 12 anos , um oncologista, sentado no seu gabinete de um hospital da grande Lisboa, olhou para a minha familiar mais direta, disse-lhe a pior notícia que se pode dar a alguém e depois fechou o dossier e disse "enfim, vou de férias",com um grande sorriso.Um dos meus irmãos que a acompanhava ficou de boca aberta.

Destaca-se, com saudade, um médico único, o Dr. Gouveia, também ele doente oncológico, que dava consultas com as marcas da agulha da quimio nos braços, numa associação de médicos solidária : "marcadores, tem sempre de fazer marcadores, há um risco familiar", dizia-me sempre. Apesar da sua doença e da sua contenção havia uma natural ternura para com a sua doente, como se fossem pares do mesmo infortúnio.

Muitos médicos e profissionais de saúde teriam a aprender muito com o Dr. Gouveia ,que infelizmente partiu há uns 3 anos, mas deixou a sua marca em todos aqueles com quem privou e isso é de facto o mais importante nesta época de pandemia em que há um crescendo de individualismo e frieza face às dores dos outros.

O que desejo a quem lê este blog é que encontre "Drs.Gouveia", médicos com empatia e que não vejam as pessoas de idade como empecilhos para uma imunidade de grupo na pandemia do Covid19.

@mmalheiro

ao Dr.Gouveia, in memoriam

publicado às 16:38

# Da sociedade automatizada

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Cinemagraph de Metropolis (1927)

A pandemia trouxe uma vida ainda mais automatizada, em que quem nos responde são os computadores, os avatares online que nos perguntam se queremos ajuda, os "taskers" com agendamento para montarem móveis , e até da escola dos nossos filhos nos respondem dizendo que determinados recados é melhor colocarmos na plataforma lms. 

Sinto a falta do contacto presencial com os amigos , com os conhecidos e até circunstancialmente com os funcionários das lojas do cidadão. Para se tratar de uma mera mudança de um dístico de residente é uma complicação para agendar, para seguir instruções online. Tem de ser tudo agendado com os serviços, por causa do Covid19. Mariano Gago que criou o Simplex meteria as mãos à cabeça se ainda aqui estivesse. Complicadex a automatização dos procedimentos. Não há agilização mas uma gritante complicação.

Se muitas vezes os trabalhadores dos call-centers atendem claramente em casa, noutras não há voz - apenas "carregue 1, tecle 2, deixe o seu número e será contactado em 48h". Palmas para muitos como hoje um trabalhador de um serviço público que às 7h53 já estava a responder a um email meu.Depois outra trabalhadora do mesmo serviço respondeu ao mesmo assunto passadas 6 horas. 

Para além disto, os agendamentos fazem-se por email e não respondem. A mensagem automática surge "responderemos em breve". De repente, tem-se a noção de que há uma estagnação causada pela pandemia mas também pela máquina gigante da burocracia.

Tem sido de aplaudir o trabalho da Task Force vacinando o maior número de pessoas, com ou sem agendamento, mas, de facto, o líder é um Vice-Almirante dos mares, com outra visão desta guerra em que vivemos.

Menos automatização , por favor! ( note-se isto é um blogue mas tenho-me dedicado agora muito mais ao objeto cultural mais interessante de todos: o livro!).

"Poderemos perguntar-nos se valerá a pena, neste momento, voltar a reafirmar que o investimento em ciência, em investigação científica e tecnológica, assim como o investimento em formação superior, aumentam a produtividade e promovem o crescimento económico e o desenvolvimento social e cultural, ou que a cultura científica é fonte de liberdade e de cidadania."

Mariano Gago, excerto do discurso no Parlamento (10 de novembro de 2010)

@mmalheiro

publicado às 23:00

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