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Blog de escrita nas horas extra dos dias

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Blog de escrita nas horas extra dos dias

# A luta permanente da classe docente

foto ( in Pinterest)

Hoje ,em plena sala de operações, uma médica dizia-me a brincar : " hoje não está em greve!"

Respondi-lhe a sorrir que, de facto, hoje não estou mas estive na manifestação de sábado.

A precariedade da profissão, o congelamento de mais de 6 anos de 2011 a 2017, as quotas nos escalões, a progressão e reposicionamento na carreira, as reformas, os currículos, as turmas enormes, a indisciplina, a transição dos alunos com várias classificações negativas, as competências essenciais que são tão abaixo dos mínimos (.!) constituem os maiores problemas que os docentes têm de enfrentar.

A gasolina, portagens, renda, quando  os professores estão deslocados da sua área de residência são problemas concretos e, sim, relacionados com a Economia. Mais do que isso, relacionados com o sistema do concurso de professores, mais do que isso como me dizia um enfermeiro hoje, relacionados com a sua família.

Tenho uma amiga professora do grupo de Ciências que este ano decidiu ficar na área de residência ( fronteira entre o Minho e Trás os Montes) para ficar com os filhos.

Resultado: desempregada desde 1 de setembro. Estaria colocada desde esse dia na região de Lisboa. Está prestes a desistir de dar aulas.

É por estes casos que eu e muitos fazemos greves e participamos em manifestações.

O sistema está errado.! E se fosse consigo.?

@mmalheiro

#professoresamanifestartambémestãoaensinar#

 

 

 

publicado às 18:27

# 4 dias por semana no país da calmaria

Vai ser implementado um projeto- piloto da semana de 4 dias em Portugal, tal como já existe em vários países europeus ( nórdicos) e na China.

O coordenador deste projeto piloto dizia que acha que a taxa de natalidade vai aumentar...

Num programa de rádio sobre este tema dizia-se que a China já tem este sistema e aumentou imenso o turismo na China.

Este tema veio à discussão após os movimentos do "quiet quitting" ( adotado por vários trabalhadores insatisfeitos com a sua precariedade laboral) a que se seguiu o "quiet firing" ( o despedimento silencioso).

Hoje, entre colegas de trabalho, questionámos como seria feita a divisão das 35 horas de trabalho por esses 4 dias ou se isso comportaria um corte no vencimento.

No momento em que toda a gente aguarda uma transferência interbancária do Estado ,a partir de dia 20, uma "pequena cenoura!" para um parco aumento salarial, em que a inflação dispara e em que há uma guerra a decorrer, é questionável de que modo será aplicada esta semana de 4 dias aos trabalhadores portugueses.

Por outro lado, ouço cada vez mais histórias de "quiet firing" , totalmente justificadas para uma queixa no Tribunal do Trabalho.

Estaremos a navegar num mar de calmaria, quando em janeiro poderemos pagar e bem! os custos do frio, com possíveis cortes de eletricidade e de gás natural?

@mmalheiro

no dia em que em França houve uma greve geral contra o aumento do custo de vida

publicado às 23:58

#Da diminuição da empatia pelos outros

Aqui há meses houve quem me dissesse, um familiar de um familiar, médico por sinal, quando lhe relatei o caso de um tio de uma amiga, ex piloto da força aérea, que tinha morrido de Covid19 : "morreu porque tinha de morrer". Nunca mais encarei este familiar da mesma forma. De algum modo, ficou tudo a nu: a sua frieza, displiciência para com os outros e a sua falta de empatia.

Há cerca de 12 anos , um oncologista, sentado no seu gabinete de um hospital da grande Lisboa, olhou para a minha familiar mais direta, disse-lhe a pior notícia que se pode dar a alguém e depois fechou o dossier e disse "enfim, vou de férias",com um grande sorriso.Um dos meus irmãos que a acompanhava ficou de boca aberta.

Destaca-se, com saudade, um médico único, o Dr. Gouveia, também ele doente oncológico, que dava consultas com as marcas da agulha da quimio nos braços, numa associação de médicos solidária : "marcadores, tem sempre de fazer marcadores, há um risco familiar", dizia-me sempre. Apesar da sua doença e da sua contenção havia uma natural ternura para com a sua doente, como se fossem pares do mesmo infortúnio.

Muitos médicos e profissionais de saúde teriam a aprender muito com o Dr. Gouveia ,que infelizmente partiu há uns 3 anos, mas deixou a sua marca em todos aqueles com quem privou e isso é de facto o mais importante nesta época de pandemia em que há um crescendo de individualismo e frieza face às dores dos outros.

O que desejo a quem lê este blog é que encontre "Drs.Gouveia", médicos com empatia e que não vejam as pessoas de idade como empecilhos para uma imunidade de grupo na pandemia do Covid19.

@mmalheiro

ao Dr.Gouveia, in memoriam

publicado às 16:38

# Da sociedade automatizada

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Cinemagraph de Metropolis (1927)

A pandemia trouxe uma vida ainda mais automatizada, em que quem nos responde são os computadores, os avatares online que nos perguntam se queremos ajuda, os "taskers" com agendamento para montarem móveis , e até da escola dos nossos filhos nos respondem dizendo que determinados recados é melhor colocarmos na plataforma lms. 

Sinto a falta do contacto presencial com os amigos , com os conhecidos e até circunstancialmente com os funcionários das lojas do cidadão. Para se tratar de uma mera mudança de um dístico de residente é uma complicação para agendar, para seguir instruções online. Tem de ser tudo agendado com os serviços, por causa do Covid19. Mariano Gago que criou o Simplex meteria as mãos à cabeça se ainda aqui estivesse. Complicadex a automatização dos procedimentos. Não há agilização mas uma gritante complicação.

Se muitas vezes os trabalhadores dos call-centers atendem claramente em casa, noutras não há voz - apenas "carregue 1, tecle 2, deixe o seu número e será contactado em 48h". Palmas para muitos como hoje um trabalhador de um serviço público que às 7h53 já estava a responder a um email meu.Depois outra trabalhadora do mesmo serviço respondeu ao mesmo assunto passadas 6 horas. 

Para além disto, os agendamentos fazem-se por email e não respondem. A mensagem automática surge "responderemos em breve". De repente, tem-se a noção de que há uma estagnação causada pela pandemia mas também pela máquina gigante da burocracia.

Tem sido de aplaudir o trabalho da Task Force vacinando o maior número de pessoas, com ou sem agendamento, mas, de facto, o líder é um Vice-Almirante dos mares, com outra visão desta guerra em que vivemos.

Menos automatização , por favor! ( note-se isto é um blogue mas tenho-me dedicado agora muito mais ao objeto cultural mais interessante de todos: o livro!).

"Poderemos perguntar-nos se valerá a pena, neste momento, voltar a reafirmar que o investimento em ciência, em investigação científica e tecnológica, assim como o investimento em formação superior, aumentam a produtividade e promovem o crescimento económico e o desenvolvimento social e cultural, ou que a cultura científica é fonte de liberdade e de cidadania."

Mariano Gago, excerto do discurso no Parlamento (10 de novembro de 2010)

@mmalheiro

publicado às 23:00

# Piso 3

Quase todos os dias percorro aquele corredor daquele edifício hospitalar antigo, tal como os meus pais percorriam nos anos 80 para ver o familiar mais doente da família, o meu avô.

O caminho dos patos no jardim, da estátua do doutor elevado a santo milagreiro, em frente à Faculdade de Medicina, conheço-o desde criança. Conheço todos os cafés , o jardim do Torel onde há muitos anos se concorria para dar aulas, onde havia um centro de formação de jornalistas, onde os meus pais namoravam há muitos anos.

Acumulam-se velas e velas e velas de agradecimento e mais à frente há um quiosque de flores. Morgue, flores, Hospital e Faculdade coexistem há decadas pré-Covid19. Entro no Hospital de máscara colorida que é sempre mudada no piso 3- tem de ser a do serviço, da visita, respondem-me. Desinfeto as mãos e dão-me um avental de plástico.

Cama 15, sempre em frente. 

Como que em herança, ocupas agora essa cama que foi outrora de outros e, quem sabe, numa das vezes do teu pai que conheceu todos os hospitais de Lisboa, alguns deles  já nem existem.

O tratamento da radioterapia de há 12 anos trouxe-te uma nova doença e muitas dores. Pergunto-me que justiça há nisto, na sobrevivência a uma maleita tremenda com tanto sofrimento. Por isso, passo pelo médico santo rapidamente. Já não posso ligar ao pai para falar do Benfica, da política, dos netos, da vida, de ti.

A Covid19 trouxe um vírus estranho e doenças derivadas desse vírus mas a maior pandemia de todas chama-se Cancro. Um gene tramado lixa a vida toda a todos, de todas as idades, sexos, profissões, estatuto social. O meu voto para este e todos os anos seguintes é que se descubra uma cura, uma verdadeira cura para este flagelo.

Piso 3- para aceder a este piso clique no botão 1.

Em passo rápido surges tu, habituado a estes corredores , a estes claustros antigos, ao "Covidário" ao lado do café, e tal como há muitos anos os meus pais, caminhamos a par para a visita.

@mmalheiro

à minha mãe.

ao ZT

publicado às 21:54

# O lugar da dúvida

Há tempos, num jornal, um ator português dizia que atualmente está tudo pré-formatado, tudo organizado na Internet, nas redes sociais, de modo que não é preciso pensar muito , pois as respostas estão em todo o lado. Não há lugar para a dúvida.

Não é , pois, preciso grande esforço para desenvolver uma ideia, uma teoria, um caminho. Talvez tenha sido por isso que abandonei há quase 4 anos o Facebook . Para além dos amigos, "mesmo" verdadeiros, que estão cá fora e que  falam comigo, por meios "ditos normais" como o telefone ou presencialmente, deixei grupos, "junk news", "junk information" . Continuo a ler jornais online, blogs, etc mas passei a ler mais e a escrever menos, como se aquilo que eu possa aqui deixar seja minimamente importante para alguém. Talvez um dia volte a ser.

Às vezes mais vale desligar e procurar respostas .

@mmalheiro

publicado às 12:13

Um milésimo de segundo numa vida

Tal como em vários momentos em que somos confrontados com o inesperado, esta semana começou com o inesperado na vida de alguém ainda jovem . O corpo, ou melhor, a cabeça, deu sinal de que havia algo de errado naquilo que era uma aparente normalidade ,num contexto absolutamente anormal , desde há um ano.

Após um aparente esquecimento de um telemóvel e do movimento automatizado para o ir buscar, algo que acontece a todos, o mero esquecimento, o corpo colapsou. O que diria Oliver Sacks se fosse vivo ou mesmo António Damásio?

Um milésimo de segundo numa vida, que muda toda uma vida.

à minha colega Liliana , com a esperança nas mãos

@mmalheiro

publicado às 23:09

# O homem e o quadrado

Há dias assistia ao segundo webinar profissional do dia e escutava já com algum cansaço .

Eram colegas da área da Matemática que explicavam a sua metodologia de projeto utilizada nas aulas presenciais e agora também online. Tinham conseguido que os alunos fizessem origamis , mesmo à distância, enquadrando-se num dos domínios da Matemática. 

Anteontem , o Primeiro-Ministro apresentou-nos pragmaticamente as linhas da pandemia, as linhas do desconfinamento e lá estavam os quadrados coloridos.

Existe uma disciplina na formação de adultos - chama-se Matemática para a Vida- e tem por objetivo demonstrar as competências dos aprendentes no seu dia a dia utilizando a Matemática como, por exemplo, fazer um simples orçamento doméstico.

Não sei calcular RT's , limito-me a ler papers da Lancet, da Wiley,a ouvir e ler quem sabe mais sobre epidemiologia,  para tentar compreender de que modo poderá ser ultrapassável esta pandemia.

A imagem do PM e dos quadrados impressionou-me- só , a enfrentar, ao mesmo tempo, com coragem e com "simples quadrados" a opinião pública. Não são precisos quadrados mas apenas palavras diretas, precisas, sobre o caminho a seguir , ainda difícil ,com guerras dentro da própria Europa por vacinas. Às vezes é preciso mais do que um país sair do quadrado, é preciso todo um Continente.

@mmalheiro

publicado às 23:36

# Da opinião pública e do egoísmo

Hoje , de manhã, vendo e escutando o programa da SIC "Opinião Pública", ouvi com espanto uma telespetadora dizer que as escolas deviam ficar fechadas o ano inteiro, dado que os pais que estão em casa, estão a receber vencimento e , pasmo maior, vem aí o Verão e as pessoas querem passear.

Portanto, para que uns passeiem no Verão, jovens, crianças, professores, pais, devem ficar em regime de clausura 365 dias e porque, enfim, não contribuem muito para a Economia. É preciso acordar a Economia, dizia.

Dei-me conta que esta pessoa, esta mulher, deve viver numa "twilight zone" e espero sinceramente que não tenha filhos, pois quem diz isto não tem amor nem a crianças, nem a seres humanos.

Todas as tardes as crianças do meu bairro estão no jardim, fazendo o seu passeio higiénico. Felizmente brincam com giz colorido e há jogos da macaca em redor da fonte , andam acelerados de trotinete, jogam à bola , caem. O resto do tempo , que é muito, estão em casa, diante de écrans de computador, televisão e telemóvel.

Qualquer pediatra poderá tentar explicar a esta senhora que as crianças precisam de brincar umas com as outras, quer para interagirem socialmente, quer para crescerem - faz parte dos estádios de desenvolvimento.

Há muitos anos numa aula de História, no meu 12º ano, em que pesquisávamos, mesmo em bibliotecas, íamos a livrarias e líamos, mesmo, a nossa professora falou-nos de como as crianças no século XIX não eram gente, eram usadas para tudo pelos pais, para o trabalho , para a casa, e as privilegiadas é que tinham preceptores em casa.

Em 1910 houve uma preocupação pela Educação- construiram-se escolas por todo o país- um país com cerca de  75% de analfabetos. Em 1901 foram criadas 5 classes na escola primária.

Neste momento,  em 2021 continua a haver iliteracia funcional- há quem não saiba ler a conta da luz, não saiba fazer operações no multibanco. No entanto, mais do que essa iliteracia , há uma crescente iliteracia, mais perigosa, a da ignorância e do egoísmo.

@mmalheiro

aos pais, aos jovens e às crianças

publicado às 11:46

# Da regra número 8 do Código de Montanhismo da Noruega ( Erling Kagge)

No livro que trago comigo ,há meses, guardam-se memórias únicas de alguém que é editor, filósofo e explorador polar, as de Erling Kagge.

No momento em que vivemos um novo confinamento, encontro a páginas tantas, algo que poderá ser definidor deste tempo estranho, de ruas solitárias e de resiliência a este inimigo invisível:

" (...) A coragem também não significa prosseguir sem ter em conta as consequências, pois ser temerário não é o mesmo que ter coragem. Não é vergonhoso recuar; é essa a regra número oito do Código de Montanhismo da Noruega. (...) Nas minhas primeiras expedições admito que o medo de que os opositores pudessem ter razão constituiu por vezes uma motivação forte para continuar."

in Filosofia para Exploradores Polares, Erlin Kagge, Quetzal, 1ª edição, Outubro 2020

Ao mesmo tempo, leio que o admirável Elon Musk, Ceo da SpaceX, resolveu testar os seus 4000 funcionários, mensalmente, para perceber quem era mais vulnerável ao Covid-19. Publicou, em conjunto com 30 coautores, um paper na revista Nature Communications,

O que diria Aldous Huxley sobre isto?

@mmalheiro

publicado às 00:19

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